quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Mimetismo:a arte do embuste

lagarta da família Geometridae
As histórias de mimetismo por vezes soam como contos do escritor americano O. Henry, nos quais dilemas estranhos acabam por ser solucionados de maneira surpreendente. Um exemplo são as lagartas, que se alimentam com voracidade. Elas passam à vida toda mastigando folhas. Como as aves apreciam muito as lagartas gordas, sempre que sobrevoam a mata, elas ficam atentas a sinais de atividade das lagartas, principalmente folhas carcomidas. Para frustrar esse reconhecimento aéreo, uma lagarta adotou novo modo de se alimentar. Em vez de mordiscar ao acaso a folhagem, uma lagarta da família Geometridae avança pelas bordas como uma costureira usando a tesoura, mantendo o formato original da folha. Quando a lagarta se dá por satisfeita, as folhas talvez estejam menores, mas suas bordas preservam a linha original. Outras vezes o melhor estratagema é uma aparência ameaçadora.

Habropoda pallida

Em recente artigo na publicação da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, Leslie Saul-Gershenz e Jocelyn Millar descreveram o caso do abominável besouro Meloe franciscanus e da ingênua abelha solitária Habropoda pallida.

Meloe franciscanus
Quando os ovos do besouro eclodem, todos ao mesmo tempo, cerca de mil larvas recém-nascidas logo se aglomeram, adotando uma bela forma oval, escura e flocosa. E elas se deslocam como uma unidade inseparável, subindo e descendo pelas folhas da relva. Esse aglomerado de larvas se parece e age como uma fêmea de abelha solitária.

Meloe franciscanus

Em seguida as larvas começam a exalar um odor idêntico ao da fêmea da abelha. Ao pousar no que imagina ser uma parceira, a abelha macho é infestada pelas larvas de besouro. Decepcionada, e sem se dar conta de seu carregamento, ela voa em busca de novo amor. Caso o encontre e se acasale, as larvas de besouro deixam à abelha macho e se agarram à fêmea. Ela irá levá-las ao lugar que mais interessa às larvas: à colmeia repleta de alimento, onde se empanturram, até a maturidade, de néctar, pólen e, o melhor, ovos de abelha.O mimetismo é um exemplo da evolução por meio da seleção natural, esse incessante esforço pelo qual os pais geram uma prole diversificada, quase toda aniquilada pelo acaso e pela intolerância da natureza.



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